AS LOJAS DE TECIDOS E A COSTURA DOMÉSTICA
Nos anos 1950 e 1960, as lojas de tecidos eram estabelecimentos comerciais fundamentais para todas as donas de casa. Lojas de roupas prontas eram exceções, e essas custavam muito caro. Portanto, era necessário recorrer à costura doméstica no caso de a mulher haver aprendido essa arte, ou senão, depender daquelas que fizeram da costura uma profissão.
Eu fui criado numa casa onde a máquina de costura era um dos mobiliários mais importantes. Minha mãe era de uma época em que saber costurar era uma das qualidades da moças. Assim, frequentou uma escola de costura na cidade, aperfeiçoando-se depois com uma senhora mineira, chamada Inês, que viveu muitos anos e tornou-se muito querida de toda a família Neves. Ela tinha um irmão que era exímio alfaiate , popularmente conhecido “Dito Chintan”.
Minha mãe ganhou uma máquina de costura Singer de seu pai e fez dela seu ganha-pão, ajudando no orçamento doméstico de seu lar após o casamento.
Tinha uma freguesia refinada. Fazia um molde com a maior facilidade. As freguesas vinham até sua casa e descreviam o modelo que desejavam ou traziam uma revista como referência. Ela, com a fita métrica sempre enrolada no pescoço, debruçava-se sobre uma mesa para dar início ao seu ato de criação Confeccionou vestidos para uso diário, de baile, de casamento, de primeira comunhão, de debutantes, blusa de todos os tipos, saias, roupas para crianças. Sua última criação especializada foi a confecção de camisas masculinas.
Nunca aderiu à máquina de costura com motor, permanecendo fiel à manual, toda de ferro fundido que ganhou do pai e está na sua casa até hoje.
Seu companheiro nessa atividade diária era o rádio, que ficava ao seu lado desde as primeiras horas da manhã até o entardecer, sempre sintonizado na Rádio Nacional do Rio de Janeiro por onde acompanhava as “novelas de rádio”
Por fim, quando essa atividade foi rareando, dedicou-se ao crochê que aprendera com sua mãe quando ainda criança, produzindo toalhas, toalhinhas e colchas
A costura rendeu-lhes boas amizades que persistem até hoje.
Essas duas artes – a costura e crochê – pô-las a disposição do Bazar da Santa Casa, ao qual se dedicou por mais de dez anos.
Bem, voltando às lojas de tecidos, seu número na cidade era grande, citando apenas aquelas das quais me lembro: a pioneira”Pernambucanas”, “Loja dos Retalhos”, “Ao Preço Fixo” (que aparece na foto) “Jaraguá”, “Nossa Casa”,Buri. Muitas delas abandonaram o ramo de tecidos e passaram a explorar outros.
A Buri ficava na rua Paraná, tendo se instalado em Ourinhos nos anos 1950. Seu primeiro gerente, é conhecido até hoje como o “Irineu da Buri”. Vindos da vizinha Cambará, ele e a esposa Maria foram morar numa casa ao lado da nossa, na Rua Arlindo Luz. As lojas Buri deixaram de existir, compradas que foram pelas “Lojas “Ponto Frio”. Irineu passou a dedicar-se ao ramo da construção civil. Maria, infelizmente, partiu muito cedo, deixando muitas saudades.
A indústria de confecções foi-se afirmando e ganhando terreno, com isso as lojas de tecidos foram se escasseando e, com elas as costureiras, hoje uma raridade.
A foto, por Francisco de Almeida Lopes, é do final dos anos 1950 , mostrando o trecho da Praça Melo Peixoto na face da rua São Paulo. Nela vemos a loja "Ao Preço Fixo e o início da obra de construção do primeiro edifício de Ourinhos, que passaria a abrigar no térreo o Bradesco, obra do arquiteto ourinhense Toshio Tone, formado pela Faculdade de Arquitetura da USP.
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