CAROLINA MELLA RIBEIRO DA SILVA - ENTOANDO "AVE MARIAS"
















































os 7 aos  17 anos morei na Rua Arlindo Luz ,  número 479.
Graças à proximidade da Igreja Matriz e a uma já forte atração para a música, ia frequentemente assistir aos casamentos que lá eram realizados para poder ouvir os dois cantores que eram chamados para abrilhantar as núpcias: Tomás Lopes e Carolina Mella Ribeiro da Silva, Cali.
O contato de minha família com Cali iniciou-se, nos anos 1940, quando ela, recém-casada, veio morar numa casa de meu avô, na rua Rio de Janeiro.
Desse modo, uma amizade próxima ligou-a a minha mãe e tias.
De seus filhos, aquele com quem tive mais proximidade, foi Roberto, colega de folguedos nas ruas e de bancos escolares.
Há muitos anos não a via. Neste final de ano, por força de uma longa estada em Ourinhos, fui visitá-la. Próxima de completar 90 anos, Cali ainda está, com a vivacidade e alegria que sempre irradiou e que a ajudaram a enfrentar as vicissitudes de uma longa jornada de vida que não foi fácil.
Falou-me de suas muitas atividades: pintura, bordados e do canto.
Quando lhe perguntei como havia iniciado a fazer solos nos casamentos, contou-me:
- "Eu cantava no coro da velha Matriz desde os 13 anos, certo dia sai das Casas Pernambucanas onde trabalhava e fui para o ensaio na Igreja. Como havia chegado bem antes do horário acertado, o maestro Galileu pediu-me para ensaiar um solo do "Ave Verum'. Acontece que estava na Igreja, Adba Abujamra que estava para se casar com Philemon de Mello e Sá. Ao ouvir meu solo quis saber quem estava cantando. Gostou tanto que me contratou para cantar na cerimônia de seu casamento. Assim iniciou-se minha carreira como solista em casamentos."
O acompanhamento, inicialmente, era feito pelo maestro Galileu, mais tarde pelas Irmãs Emiliana, Custódia e Carmela. Também participaram muitas vezes Liberto Resta e Ditinho ao violino. Em algumas ocasiões Cali fazia solo com Tomas Lopes, tenor, Milton Rosa, tenor e Ernesto Rosa, baixo.
Já nos anos 1930, Cali passou a encarnar a Verônica na tradicional Procissão do Enterro, realizada na Sexta-Feira Santa, a convite do Cônego Miguel dos Reis Mello.
Esse é um momento comovedor da procissão do Senhor Morto, acompanhado do mais absoluto silêncio. A soprano que o entoa recita trechos em Latim extraídos das "Lamentações do profeta Isaias", enquanto vai desdobrando o véu, no qual está estampado o rosto ensanguentado de Cristo:


"12 LAMED. O vos omnes, qui transitis per viam,attendite et videte,si est dolor sicut dolor meus,quem paravit mihi,quo afflixit me Dominus
in die irae furoris sui. ."

Tive a felicidade de assistir muitas vezes vezes a sua fase final como Verônica. Emocionante !
Cali foi casada com Elziro Ribeiro da Silva. O casal teve os filhos: Maria Helena, Sérgio, Vera Lucia, Roberto, Eduardo, Maria Alice e Fernando.
Durante muitos anos foram proprietários do bazar "Casa Primavera", na rua Paraná onde, pela simpatia irradiante de Cali, amealharam uma vasta freguesia.
Em 2004, Cali publicou "Relembranças", no qual narra suas memórias.
Fotos: Carolina Mella Ribeiro da Silva
Cali e Elziro, nos anos 1940.

Comentários

Francisco Carlos Soares falou:
José Carlos, Seu relato, reputo como a mais tocante homenagem que alguém poderia prestar à Carolina Mella Ribeiro da Silva. Da minha faixa de idade, duvido que alguém deixe de se lembrar dela e do sr. Elziro. Parabéns Chicão

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