DE LUTO E DE VELÓRIOS



Novos tempos, novas cabeças, novos costumes.
Hoje, o luto aparente quase nada significa para as pessoas.
Até os anos 1960, grande parte das famílias guardavam-no segundo regras severas.
Nas famílias que professavam a fé católica havia, obrigatoriamente, as missas de sétimo dia, nas quais era posta na frente do altar principal,  uma eça. Havia também, as missas de 30 dias e de um ano.




Esta é uma Eça luxuosa. A da nossa  igreja matriz era bem mais simples, porém bonita.

Os "santinhos" com foto do falecido (a) não podiam faltar nas três missas obrigatórias. Igualmente, se faziam publicar na imprensa local os convites para essas missas. Numa época em que a comunicação era limitada, quando havia tempo suficiente, imprimiam-se convites para os enterros, os quais eram distribuídos pela cidade.
O velório eram realizado nas casa dos falecido (a), que ficava repleta de amigos (as) e familiares, os quais varavam a noite rezando vários terços.
Os enterros eram muito concorridos e o caixão era levado pelas mãos dos amigos até o cemitério. Hoje, o corpo é velado nos impessoais velórios municipais e particulares e, muitas vezes, há que se conviver com vizinhos desconhecidos.
O mais belo enterro que vi no cinema foi o da empregada negra de Lana Turner, no filme "Imitação da Vida" (
Lana Turner, John Gavin, Susan Kohner, Sandra Dee, Dan O'Herlihy, Robert Alda, Juanita Moore, Mahalia Jackson, Terry Burnham, Karin Dicker, Troy Donahue), obra prima de Douglas Sirk , do ano de 1959. No templo lotado e enfeitado com muitas flores, a cantora Mahalia Jackson cantou um "spiritual". O bonito caixão branco era levada numa carruagem puxada por cavalos; à frente uma banda executava música. Marcou, sem dúvida, o garoto de 12 anos que eu era.
A igreja ficava lotada no dia das três missas. Muitas vezes as famílias recorriam ao concurso musical do maestro Galileu, que executava música fúnebre ao orgão localizado no coro. Foi assim na missa de 7º dia de meu avô, em 1955, a primeira que assisti.
Uma das regras mais severas do luto era a utilização de roupa preta pelas mulheres durante um ano! Logo após a morte, a solução era o tingimento de algumas peças. Os homens deviam levar uma tarja preta no paletó. Até a missa de 7º dia não deviam barbear-se.
Hoje, raramente os velórios são concorridos, restringindo-se muitas vezes aos familiares e alguns amigos (as). Já as missas vão sendo deixadas de lado, quando muito há a de de 7º dia. Luto nas roupas, então, nem pensar.
Na verdade, o luto autêntico é aquele que trazemos no coração, é um estado de espírito. As regras de aparência nada representam.
A foto de hoje nos mostra minha tia Maria Neves (Nim) com traje de luto completo, seis meses após a morte de meu avô. No colo está seu sobrinho Francisco Eduardo Neves Bernardini.
Maria foi funcionária da Companhia Telefônica Brasileira e era muito estimada na cidade.
Foto por Francisco de Almeida Lopes

Comentários

Andréa Santos disse…
Bom dia! Bem, naum sei se vc poderia me ajudar.. estou fazendo uma pesquisa sobre santinhos e seu surgimento.. encontrei seu blog e achei bem interessante a descrição os enterros nos tempos passados. Caso você saiba algo de interessante sobre santinho e puder me ajudar ficarei muito grata.
Abraços
P.S. meu email: dreasantos@yahoo.com.br

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